L. Batista

Compartilhando ideias e histórias.

Candomblé: qual é a diferença entre a Umbanda e o Candomblé?

Você sabia que o Brasil é o país com maior diversidade religiosa do mundo? Segundo o último censo do IBGE, existem mais de 300 denominações religiosas no país. As religiões afro-brasileiras representam cerca de 0,3% da população. Entre elas, as mais conhecidas são o Candomblé e a Umbanda. Essas duas religiões têm origens, rituais e conceitos distintos. Mas elas também compartilham alguns elementos em comum. A diferença entre o Candomblé e a Umbanda reside na forma como elas se manifestam espiritualmente. O Candomblé é vinculado à ancestralidade africana. A Umbanda incorpora influências sincréticas e uma abordagem mais sutil em relação a dogmas e tradições.



Candomblé e Umbanda: duas religiões afro-brasileiras com origens, rituais e conceitos distintos

Ao decidir se iniciar ou frequentar um templo de uma dessas religiões, o indivíduo precisa estar muito bem resolvido consigo mesmo. Ele precisa saber que sofrerá pré-julgamentos, sejam eles de dentro ou de fora da comunidade religiosa escolhida.

Ao longo dos anos, o Candomblé e a Umbanda coexistiram pacificamente, cada um dentro da sua doutrina. Eles têm diversos conceitos fundamentados há décadas, que diferenciam essas duas religiões por características simples. Por exemplo, a iniciação litúrgica sempre fez parte do Candomblé, enquanto que na Umbanda existia um chamado “Apadrinhamento” por parte dos dirigentes do local.

Contudo, no período mais contemporâneo, encontramos adeptos da Umbanda fazendo uma releitura de parte desses rituais do Candomblé. Eles tentam evidenciar essas práticas como se elas fossem realizadas na Umbanda desde os seus primórdios.

Talvez esses sejam os principais pontos de conflito que colocam, atualmente, essas duas religiões em contraponto. Para alguns, a diferença entre umbanda e candomblé é tão grande que eles não conseguem conviver harmoniosamente, mesmo tendo uma origem comum. E assim, eles apartam o princípio de irmandade, municiando o pré-julgamento entre os seguidores destas duas religiões distintas.

As origens históricas e culturais do Candomblé e da Umbanda

O Candomblé e a Umbanda são duas religiões afro-brasileiras que surgiram no Brasil. Elas são religiões sincréticas, que combinam elementos de diferentes tradições religiosas.

Candomblé: Raízes nos Orixás e Evolução Cultural ao Longo dos Séculos

O Candomblé é a religião afro-brasileira mais antiga, tendo suas raízes nos cultos aos Orixás, as divindades africanas. Eles foram trazidos pelos escravos vindos de diferentes regiões da África, principalmente da Nigéria, do Benim e de Angola. Os escravos mantiveram seus ritos e crenças, mas também incorporaram elementos do Catolicismo, como os santos e as festas. Assim, surgiram as diferentes nações ou tradições do Candomblé, como o Ketu, o Jeje e o Angola. Elas se distinguem pela origem étnica, pela língua sagrada, pelos rituais e pelos orixás cultuados.

Umbanda: Nascimento no Século XX e Síntese Espiritual ao Longo do Tempo

A Umbanda, por sua vez, é uma religião afro-brasileira mais recente, tendo surgido no início do século XX, no Rio de Janeiro. Seja como for, ela surgiu a partir de uma síntese entre o Cristianismo e Hinduísmo, assimilando e absorvendo características do Candomblé e do Espiritismo ao longo dos tempos. Por certo, ela também incorporou outras manifestações religiosas, como o Xamanismo e até liturgias da Maçonaria.

A Umbanda se baseia na comunicação com os guias espirituais, que são entidades que se manifestam através da mediunidade dos médiuns. Sendo assim, eles se dividem em sete linhas ou falanges, cada uma com uma função e uma vibração específica. As principais linhas são: os caboclos, os pretos-velhos, os exus, os baianos, os boiadeiros, os marinheiros e as crianças.

Essas duas religiões afro-brasileiras, portanto, têm origens, rituais e conceitos distintos. Mas, mesmo havendo diferença entre umbanda e candomblé, elas também compartilham alguns elementos em comum, como a crença na reencarnação, na caridade, na natureza e na ancestralidade. Elas também são expressões de resistência e identidade dos povos afro-brasileiros. Eles enfrentaram e enfrentam o preconceito, a discriminação e a intolerância religiosa na sociedade brasileira.

As casas matrizes do Candomblé na Bahia e os primeiros sacerdotes de Umbanda do Brasil

O Candomblé e a Umbanda são duas religiões afro-brasileiras que têm suas origens e seus centros históricos na Bahia. Essa é uma das poucas semelhanças entre elas, pois a diferença entre umbanda e candomblé é bastante significativa em termos de rituais, conceitos e entidades cultuadas. Em conclusão, nesse estado, surgiram as primeiras casas de culto aos orixás, que se tornaram referências para as demais comunidades religiosas do país.

Uma das casas mais antigas e importantes do Candomblé na Bahia é o Ilê Iyá Nassô Oká, também conhecido como Casa Branca do Engenho Velho, fundado no século XIX por três escravas libertas: Iyá Nassô, Iyá Detá e Iyá Kalá. Essa casa segue a tradição do Candomblé Ketu, de origem iorubá, e é considerada a primeira a ser oficialmente registrada como religião no Brasil, em 1937

Outras duas casas matrizes do Candomblé na Bahia são o Ilê Iyá Omi Axé Iyamassê, mais conhecido como Terreiro do Gantois, e o Ilê Axé Opô Afonjá. Ambas se originaram do Ilê Iyá Nassô Oká, mas se diferenciaram por questões políticas e doutrinárias. Maria Júlia da Conceição Nazaré fundou o Terreiro do Gantois em 1849, e Maria Escolástica da Conceição Nazareth, também chamada Mãe Menininha do Gantois, dirigiu-o de 1894 a 1986. Eugênia Ana dos Santos, a Mãe Aninha, fundou o Ilê Axé Opô Afonjá em 1910.

Zélio de Moraes e a Controvérsia da Fundação da Umbanda: Um Olhar Crítico sobre a Origem da Religião no Brasil

A Umbanda, por sua vez, é uma religião mais recente, que surgiu no início do século XX, no Rio de Janeiro. Zélio Fernandino de Moraes, um médium fluminense, é o fundador considerado da Umbanda. Em 1908, ele teria incorporado o Caboclo das Sete Encruzilhadas, uma entidade que se apresentou como o chefe de uma nova religião, a Umbanda. Essa religião, considerando a grande diferença entre umbanda e candomblé, se baseia na comunicação com os guias espirituais, que se dividem em sete linhas ou falanges.

Zélio de Moraes fundou a primeira casa de Umbanda, chamada Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, onde realizava sessões mediúnicas com a presença de caboclos, pretos velhos, exus e crianças. Por certo, ele também foi o responsável por difundir a Umbanda pelo Brasil, fundando outras tendas e orientando outros médiuns. No entanto, a sua figura é controversa e questionada por alguns umbandistas, que consideram que a Umbanda é muito anterior a ele e que ele representou um processo de embranquecimento da religião.

Outras ramificações do Candomblé: Casa de Oxumarê, Culto a Egun e Candomblé Angola

O Candomblé é uma religião afro-brasileira que possui diversas ramificações, que se diferenciam pela origem, pelos rituais, pelos conceitos e pelas entidades cultuadas. Em resumo, nesta seção vamos conhecer um pouco mais sobre três dessas ramificações: a Casa de Oxumarê, o Culto a Egun e o Candomblé Angola.

A História e Legado da Casa de Oxumarê: Raízes, Líderes e Reconhecimento Patrimonial na Bahia

A Casa de Oxumarê é um dos mais antigos e tradicionais terreiros de Candomblé da Bahia, fundado no final do século XVIII por Manoel Joaquim Ricardo, o Babá Talábi, em Cachoeira, Bahia. Logo após, vieram outros líderes, como Antônio Maria Belchior, o Babá Salacó, e Antônio Manuel Bonfim, o Babá Antônio de Oxumarê, também conhecido como Cobra Encantada.

Sendo assim, esses foram os responsáveis por transferir o axé da Casa para Salvador, onde ela se tornou uma das mais antigas e tradicionais casas de candomblé do Brasil. A Casa de Oxumarê segue a tradição do Candomblé Nagô Vodun, originado em Ketu, de raízes iorubás. Em suma, ela abriga os Voduns Jeje, com origem fon, e é dedicada ao orixá Oxumarê, senhor do arco-íris e da renovação. A Casa de Oxumarê foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC) em 2004, como patrimônio histórico e cultural do Brasil.

Culto a Egun no Brasil: Tradições, Rituais e o Ilê Babá Aboulá na Ilha de Itaparica, Bahia

O Culto a Egun é uma prática religiosa que reverencia os ancestrais masculinos, chamados de Egunguns. O culto tem suas raízes na cultura iorubá e foi trazido para o Brasil pelos escravos africanos. Sendo assim, as casas de Culto a Egun realizam-se separadamente das casas de Orixá, envolvendo rituais específicos, como a saída dos Egunguns, vestimentas sagradas que representam os espíritos dos antepassados. Um dos principais locais onde se pratica o Culto a Egun no Brasil é a Ilha de Itaparica, na Bahia, onde existe o Ilê Babá Aboulá, um dos primeiros terreiros do Brasil a cultuar os Egunguns, fundado em 1940.

Candomblé Angola no Brasil: Raízes Bantus, Conexão com a Terra e Legado de Maria Neném em Salvador

Embora o Candomblé Angola seja uma ramificação do Candomblé, sua origem remonta aos povos bantus, migrados de regiões como Angola, Congo e Moçambique. Esta vertente cultua os Inkisi, forças da natureza que se manifestam em elementos como pedras, árvores, animais e pessoas. Essa forma de Candomblé estabelece uma forte conexão com a terra, os ancestrais e a magia, destacando-se por suas práticas espirituais profundamente enraizadas na cosmovisão bantu.

Ademais, a primeira casa de Candomblé Angola no Brasil foi fundada em Salvador por Maria Genoveva do Bonfim, a Mameto Tuenda dia N’Zambi, conhecida por Maria Neném, no século XIX. Ela foi a responsável por iniciar muitos filhos e filhas de santo, que deram origem a outras casas de Candomblé Angola, como o Bate Folha, o Tumba Junsara e o Tumbenci.

Quimbanda: uma religião afro-brasileira com raízes angolanas e práticas contemporâneas

Os exus e as pombagiras, entidades que atuam na linha da esquerda, manipulando tanto forças negativas quanto positivas, trabalham diretamente na Quimbanda, uma religião afro-brasileira. A saber, a mitologia bantu é a raiz da Quimbanda, considerada uma forma de magia, que busca atingir objetivos práticos ou espirituais.

A palavra africana em bantu que significa “curador” ou “xamã”, assim como pode se referir também a “aquele que se comunica com o além”, originou a palavra quimbanda. Essa palavra designava os sacerdotes dos cultos aos Inkisi. Por fim, os escravos vindos de regiões como Angola, Congo e Moçambique trouxeram o culto aos Inkisi para o Brasil, e eles deram origem ao Candomblé de nação Angola.

Entretanto, a Quimbanda não se limita à ramificação do Candomblé Angola. Ela é uma religião autônoma, formada pela síntese de tradições bantu, cultos indígenas, feitiçaria popular, demonologia europeia, espiritismo kardecista e outras manifestações religiosas. Por certo, ela surgiu no Brasil no início do século XX, no Rio de Janeiro, sob a influência de um livro de feitiçaria do século XVIII, o Grimorium Verum. Este livro associava os exus aos demônios da magia medieval. Além disso, a Quimbanda absorveu influências da Umbanda, que pratica o sincretismo de santos católicos com os Orixás. Essa é outra grande diferença entre Umbanda e Candomblé, pois a Quimbanda trabalha diretamente com os exus e as pombagiras, as entidades que atuam na linha da esquerda.

A Quimbanda, religião adaptável às necessidades dos adeptos, busca soluções para problemas materiais, afetivos, profissionais e espirituais. Ela realiza oferendas, catiças, mandingas e simpatias para entidades, que se manifestam através dos médiuns. Além disso, a Quimbanda estabelece uma forte ligação com o satanismo e o luciferianismo, correntes de magia que exaltam a liberdade, a rebeldia e a autoafirmação do indivíduo.

Candomblé e Umbanda: duas religiões afro-brasileiras com identidades próprias

Neste artigo, vimos como o Candomblé e Umbanda são duas religiões que surgiram no Brasil a partir da influência dos povos africanos, indígenas e europeus. Nós também vimos como essas duas religiões têm origens, rituais e conceitos distintos, mas que também compartilham alguns elementos em comum.

Candomblé: Raízes nos Orixás e Conexão Sagrada com a Natureza

O Candomblé, como a religião afro-brasileira mais antiga, tem raízes nos cultos aos Orixás. Sobretudo, essas divindades africanas foram trazidas pelos escravos de diferentes regiões, como Nigéria, Benim e Angola. Sendo assim, o Candomblé se desdobra em diversas nações, como Ketu, Jeje e Angola, diferenciadas pela origem étnica, língua sagrada, rituais e divindades cultuadas. Nesse contexto, o Candomblé também estabelece uma forte ligação com a natureza, os ancestrais e a iniciação litúrgica.

Umbanda: Síntese Espiritual no Início do Século XX e Linhas Vibracionais Específicas

A Umbanda, uma religião afro-brasileira mais recente, surgiu no início do século XX no Rio de Janeiro. Em resumo, originou-se da síntese entre Candomblé, Espiritismo, Catolicismo e outras manifestações religiosas, como Xamanismo e até a liturgia da Maçonaria. Talvez, uma grande diferença entre Umbanda e Candomblé seja que a Umbanda baseia-se na comunicação com guias espirituais, entidades manifestadas pela mediunidade, divididas em sete linhas ou falanges, cada uma com função e vibração específica. Só para ilustrar, as principais linhas são: os caboclos, os pretos-velhos, os exus, os baianos, os boiadeiros, os marinheiros e as crianças. A Umbanda também tem uma forte ligação com a caridade, com a reencarnação e com o apadrinhamento.

Divergências Culturais e Espirituais entre Candomblé e Umbanda

Por fim, vimos que há diferença entre a Umbanda e o Candomblé. São duas religiões afro-brasileiras com identidades próprias, que expressam a diversidade e a riqueza da cultura e da religiosidade do nosso povo. Esperamos que você tenha gostado deste artigo e que ele tenha contribuído para o seu conhecimento e respeito por essas duas religiões. Se você quiser saber mais, você pode acompanhar o Podcast Jẹ ki a lọ no Youtube, Spotify e Castbox, no Instagram e Tiktok.


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