L. Batista

Compartilhando ideias e histórias.

Os 10 Filmes Sobre o Candomblé que Você Precisa Assistir

O Candomblé é uma religião afro-brasileira rica e complexa que se originou entre os povos Yorùbá, Fon e Bantu da África Ocidental e Central que se estabeleceram no Brasil durante o período colonial. Esta religião, cujos fundamentos foram trazidos para o nosso país durante o tráfico transatlântico de escravos, tem desempenhado um papel crucial na preservação das tradições e culturas africanas no Brasil.

A importância cultural dos filmes que retratam o Candomblé é imensa. Eles servem como uma janela para a compreensão desta religião única e suas práticas. Os filmes sobre o Candomblé ajudam a desmistificar muitos dos equívocos associados a esta religião, ao mesmo tempo que destacam a beleza e a profundidade de suas tradições e rituais.

Além disso, esses filmes desempenham um papel vital na educação do público sobre a história e a cultura afro-brasileira, oferecendo uma representação visual das práticas do Candomblé, permitindo que os espectadores tenham uma visão mais profunda e pessoal desta religião.

Em resumo, os filmes sobre o Candomblé são ferramentas poderosas para a preservação e promoção da cultura e tradições afro-brasileiras. Eles não apenas educam o público, mas também celebram a diversidade e a riqueza da herança cultural do Brasil. E pensando nisso, resolvi te apresentar 10 Filmes Sobre o Candomblé que você precisa assistir e, no final, vou te presentear com mais três filmes que eu considero ser os que melhor falam sobre essa cultura religiosa.



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Antes de falar de Filmes Sobre o Candomblé

Antes de começarmos a falar desses grandes filmes que trazem a temática sobre o Candomblé, é preciso observar que os anos 70, 80 e 90 nos presentearam com grandes séries sobre o Candomblé, como a Minissérie “Mãe de Santo”, produzida pela extinta Rede Manchete e exibida no mesmo canal entre 9 de outubro e 2 de novembro de 1990, que foi ao ar em 16 episódios que depois foram reprisados em 1992. A série foi ricamente produzida com seu enredo girando em torno de uma Iyalorixá, ou seja, uma Mãe de Santo, apresentando cada capítulo com um Orixá como tema principal e terminando o episódio com imagens, xilogravuras e referências do Orixá que foi assunto no episódio.

Mas antes desta produção, que contou com nomes que hoje são consagrados na teledramaturgia brasileira, a Rede Globo de Televisão, também reconhecida pela tradição e qualidade de suas minisséries e novelas, também nos presenteou com a produção de Tenda dos Milagres, exibida em 30 capítulos entre os dias 28 de julho a 6 de setembro de 1985. A minissérie foi escrita por Aguinaldo Silva e Regina Braga, como uma adaptação livremente inspirada no romance homônimo escrito pelo nosso consagrado Jorge Amado.

Mesmo que tenha se passado mais de trinta anos desde que as séries foram ao ar, sua importância nos dias de hoje ainda são muito grandes e, com a crescente busca pela temática do Candomblé nas redes sociais, muitos dos jovens têm crescido ouvindo falar delas. A procura pelas séries nas plataformas de vídeos na internet têm aumentado ao longo dos anos e, aproveitando-nos deste interesse do público, temos a oportunidade de falar também sobre esses grandes filmes que, muitos deles, ainda não são de amplo conhecimento deste público.

Então, agora que já estamos preparados para o que está por vir, vamos falar sobre esses filmes interessantes para conhecer um pouco mais da cultura e religiosidade do Candomblé.

Capa do filme Cafundó

Cafundó

Cafundó é um filme brasileiro de 2005 que retrata a vida de João de Camargo de Mello, um ex-escravo que se tornou uma figura religiosa influente no Brasil no final do século XIX e início do século XX. O filme é ambientado na região de Sorocaba, São Paulo, conhecida como Cafundó, da qual o filme tira seu nome.

Sua história retrata a jornada espiritual de João de Camargo e sua luta para reconciliar suas crenças africanas com o catolicismo predominante da época. Ao longo do filme, vemos como o Candomblé desempenha um papel crucial em sua vida, fornecendo-lhe conforto e orientação em tempos de adversidade.

Cafundó faz um excelente trabalho por ser um dos filmes sobre o Candomblé que o apresenta de uma maneira respeitosa e autêntica. O filme destaca a beleza e a complexidade desta religião, ao mesmo tempo que explora as tensões entre as tradições africanas e a fé cristã. Mesmo que registros históricos como “Os Candomblés de São Paulo”, publicado em 1991 pelo escritor Reginaldo Prandi, datem um estabelecimento e crescimento expressivo do Candomblé no Estado de São Paulo pelos entornos dos anos 1950, Cafundó pode ser visto como uma ficção que traz a temática à tona sem ferir o contexto histórico.

Em resumo, Cafundó é um filme poderoso que oferece uma visão profunda do Candomblé e seu papel na formação da identidade afro-brasileira. É um filme essencial para quem deseja entender melhor esta religião única e sua representação no cinema brasileiro.

Capa do filme Ó paí, ó

Ó Paí, ó

Ó Paí, ó é um vibrante filme brasileiro de 2008 que retrata a vida em uma comunidade de Salvador, Bahia, durante o Carnaval. Ele é um dos filmes sobre o Candomblé que é conhecido por sua representação autêntica e colorida da cultura afro-brasileira, incluindo a religião do Candomblé. Ele mostra a alegria cotidiana do baiano mesmo diante das maiores adversidades, encantando os telespectadores de uma forma autêntica e divertida, sem perder a importância da reflexão perante as nuances das tristezas vividas pelo povo mais carente.

O filme se passa em um cortiço no histórico bairro do Pelourinho e segue uma variedade de personagens enquanto eles navegam pelas alegrias e desafios da vida. O Candomblé é retratado como uma parte integrante da vida dos personagens, influenciando suas decisões e ações. As situações corriqueiras misturadas à irreverência natural do baiano, seu otimismo ancestral e a força natural de um povo acostumado à encarar as batalhas do dia a dia sem esmorecer, conectam das mais diversas camadas da sociedade, gerando uma grande identificação com o público.

Ó Paí, ó destaca a beleza e a complexidade do Candomblé, retratando a religião com respeito e profundidade. O filme mostra como o Candomblé oferece uma fonte de conforto e orientação para os personagens, ao mesmo tempo que desempenha um papel crucial na formação de sua identidade cultural. Ele mostra, ainda, como os integrantes de diversas religiões interagem com o Candomblé em uma localidade ecumênica, onde a herança cultural africana se integra com o dia a dia do indivíduo mesmo quando ele professa outras religiões.

Ó Paí, ó, em resumo, é um dos filmes sobre o Candomblé essencial para quem deseja entender melhor a sua relação com pessoas que cresceram margeados pela sua rica cultura, mesmo não praticando-a. Com a sua abordagem autêntica, o filme oferece uma visão valiosa desta religião única e sua influência na cultura do povo brasileiro. O filme se torna ímpar principalmente por mostrar esse cotidiano contemporâneo em situações que ainda são muito atuais no dia a dia ainda hoje.

Capa do Filme Besouro

Besouro

Besouro é um dos filmes sobre o Candomblé que foi produzido no Brasil e lançado em 2009, contando, n a verdade, a história de Manoel Henrique Pereira, mais conhecido como Besouro Mangangá, um capoeirista lendário da Bahia. O filme é ambientado na década de 1920 e oferece uma visão fascinante da vida e das lutas de Besouro. A história foi inspirado na figura icônica de um capoeirista que se tornou uma verdadeira lenda para os praticantes desta arte afro-brasileira, trazendo a relevância do seu nome para o público nacional e internacional.

O filme retrata Besouro como um homem de grande fé e força, cujas habilidades na capoeira são aprimoradas por sua crença no Candomblé. O Candomblé é apresentado como uma fonte de poder e inspiração para Besouro, guiando-o em sua jornada e dando-lhe a força para lutar contra a injustiça. A magia e os elementos sagrados da religião são retratados de uma forma impressionante, com destaque inclusive para os efeitos especiais muito bonitos utilizados no filme, despertando a mente dos telespectadores para as características sobrenaturais desta religião.

Besouro destaca a beleza e a complexidade do Candomblé, mostrando como a religião pode oferecer orientação e força em tempos de adversidade.

O filme faz um excelente trabalho ao retratar a religião de uma maneira respeitosa, destacando sua importância na vida de Besouro e na cultura afro-brasileira em geral. Sua história nos convida a revisitar os primórdios desta religião, tempo em que a ligação do Povo de Santo se consolidava por uma maior proximidade com africanos vivendo em terra brasileira. Ela nos leva à reflexão sobre a importância de se ouvir o aprendizado dos nossos mais velhos, pessoas que com o passar do tempo vieram a se tornar os antepassados e os ancestrais a receberem culto pelos integrantes mais contemporâneos do Candomblé.

Não há como deixar de ver Besouro como um filme que oferece uma visão mais mística e intimista das religiões afro-brasileiras, se conectando principalmente com pessoas que talvez estejam mais acostumadas a ter contato com filmes e séries que apresentam heróis e lendas estrangeiras. Ele nos mostra grande parte da característica guerreira do povo brasileiro e a importância de reconhecer os nossos heróis e as origens da nossa força, valorizando a herança cultural do povo brasileiro.

O Pagador de Promessas

O Pagador de Promessas se tornou um marco no cinema nacional após o seu lançamento, em 1962. O filme conta a história de Zé-do-Burro, um homem simples do interior que faz uma promessa a Santa Bárbara para curar seu asno de estimação. A promessa o leva a uma jornada desafiadora para a cidade de Salvador carregando uma imensa cruz de madeira nas costas, onde ele enfrenta a burocracia da Igreja Católica e a incompreensão da sociedade urbana.

O filme mostra o Candomblé através da figura de Santa Bárbara, que também é sincretizada com a orixá Iansã, ou Oyá, no Candomblé. A fé de Zé-do-Burro no poder de Santa Bárbara/Iansã e sua determinação em cumprir sua promessa o levam a doar metade das terras de seu sítio e, apesar dos obstáculos, refletem a profunda conexão entre o povo brasileiro e suas raízes africanas. A fé é demonstrada de uma maneira forte e envolvente, como parte da vivência cultural de um povo acostumado a ter esperança perante as mazelas do dia a dia.

O Pagador de Promessas destaca a beleza e a complexidade do Candomblé, mostrando como a religião pode oferecer orientação e força em tempos de adversidade. Este é um dos filmes sobre o Candomblé que faz um excelente trabalho ao retratar a religião de uma maneira muito cotidiana para a época, destacando a sua importância na vida de Zé-do-Burro e na cultura afro-brasileira em geral. As dificuldades vividas pelo personagem não são difíceis de serem encontradas nos dias de hoje, sintetizadas, por exemplo, durante a situação clara de flerte entre sua esposa e o cafetão “Bonitão” enquanto Zé-do-Burro se esforça por cumprir com sua palavra.

Por fim, a via crucis demonstrada em O Pagador de Promessas o torna um filme poderoso e um símbolo da resistência perante o preconceito e a intolerância religiosa. Somos convidados a fazer uma grande reflexão a respeito da perseverança na fé diante das provações que um indivíduo pode encontrar ao tentar manter a integridade da sua honra e caráter, como no conflito apresentado pela grande resistência do padre Olavo em aceitar a entrada de Zé na igreja para cumprir sua promessa, pois ela havia sido feita dentro de um “Terreiro de Macumba”.

O Amuleto de Ogum

O Amuleto de Ogum, lançado em 1974 e dirigido pelo renomado Nelson Pereira dos Santos, é um clássico imperdível entre os filmes sobre o Candomblé. A narrativa gira em torno de Gabriel, um jovem protegido por um amuleto dedicado ao orixá Ogum, que o torna invulnerável a balas e armas brancas. Esta proteção divina molda sua jornada, oferecendo uma visão fascinante sobre a influência do Candomblé na vida cotidiana.

O enredo destaca o amuleto de Ogum como um poderoso símbolo central, refletindo a força e a orientação que o Candomblé proporciona a seus seguidores. A trama acompanha Gabriel enquanto ele enfrenta desafios e perigos, sempre guiado pela proteção espiritual de Ogum. Esta representação autêntica e respeitosa do Candomblé revela a profundidade e a beleza da religião, mostrando como ela oferece suporte e direção em momentos de adversidade.

Além de explorar a dimensão espiritual, O Amuleto de Ogum também celebra a riqueza cultural do Candomblé. Através de uma narrativa envolvente e personagens bem desenvolvidos, o filme destaca a importância dessa religião na formação da identidade afro-brasileira. A direção cuidadosa de Nelson Pereira dos Santos garante que cada detalhe contribua para uma experiência cinematográfica autêntica e enriquecedora.

Para quem deseja mergulhar no universo do Candomblé e entender sua influência na cultura brasileira, O Amuleto de Ogum é um filme essencial. Ele não só oferece uma visão profunda sobre a religião, mas também destaca sua relevância e impacto na vida de seus praticantes. Este filme é uma joia do cinema nacional, proporcionando uma compreensão mais ampla e respeitosa do Candomblé e de suas tradições.

Qualquer pessoa que esteja em busca de filmes sobre o Candomblé, para entender um pouco mais sobre a sua cultura e tradicionalidade, precisa assistir O Amuleto de Ogum com o devido carinho e atenção, por ser uma obra-prima que realmente merece ser vista e apreciada. Sua narrativa envolvente faz dele um marco na história do cinema brasileiro e uma fonte valiosa de conhecimento sobre essa rica tradição espiritual.

M8 – Quando a Morte Socorre a Vida: Uma Jornada de Fé e Descoberta

M8 – Quando a Morte Socorre a Vida é um filme brasileiro de 2019 que conta a história de Maurício, um estudante de medicina que se depara com uma descoberta pessoal surpreendente durante sua jornada acadêmica.

O filme aborda o Candomblé de uma maneira sutil, mas significativa. A religião é retratada como uma parte integrante da vida de alguns personagens, influenciando suas percepções do mundo e suas interações diárias. O filme é destinado a um público amplo, mas será particularmente interessante para aqueles que desejam entender melhor o Candomblé e sua representação no cinema brasileiro.

O filme é baseado no livro homônimo de Salomão Polakiewicz, que conta a história de um jovem negro e periférico que consegue ingressar na faculdade de medicina por meio das cotas. Na primeira aula de anatomia, Maurício se depara com o cadáver M8, também negro e, ao longo do semestre, ele embarca em uma jornada para tentar descobrir a identidade do homem e enfrentar a própria angústia de se identificar com aquele corpo.

M8 – Quando a Morte Socorre a Vida é um retrato do Brasil em vários aspectos, principalmente no que diz respeito à população negra. É um dos filmes sobre o Candomblé que aborda temas como ancestralidade e religiosidade, racismo, relações de poder e representatividade. Ele também dá um grande destaque para a importância dessa religião na vida dos seus protagonistas, promovendo uma identificação do público periférico com situações corriqueiras apresentadas.

O filme ganhou o prêmio do público de Melhor Filme de Ficção no Festival do Rio em 2019, está disponível na Netflix. O elenco inclui grandes nomes da televisão e do cinema nacional, como Juan Paiva, Mariana Nunes, Zezé Motta, Lázaro Ramos, Ailton Graça, Rocco Pitanga, Léa Garcia, Tatiana Tibúrcio e Raphael Logan.

Em resumo, M8 – Quando a Morte Socorre a Vida oferece uma visão profunda do Candomblé e seu papel na formação da identidade afro-brasileira. É um filme essencial para quem se interessa pelo assunto e deseja estar em contato com uma filmografia bem elaborada.

Quilombo: Uma Epopeia de Liberdade e Resistência

Quilombo é um dos grandes filmes sobre o Candomblé produzido no Brasil, em 1984 e dirigido por Carlos Diegues. O filme é baseado na história do Quilombo dos Palmares, uma comunidade de escravos fugitivos que se estabeleceu no nordeste do Brasil no século XVII. A trama segue a ascensão e queda de Palmares, retratando a luta pela liberdade e a criação de uma sociedade própria.

Através da figura de Ganga Zumba, que no filme é um líder carismático que ajuda a criar a sociedade de Palmares, o Candomblé é apresentado por meio da dramatização de rituais de passagem e aspectos culturais relativos aos acontecimentos da época.

Quilombo foi produzido por Augusto Arraes e conta com um elenco talentoso, incluindo Antônio Pompêo, Zezé Motta, Tony Tornado e Vera Fischer. A trilha sonora é de Gilberto Gil, um dos maiores músicos populares do Brasil. Foi indicado ao Festival de Cannes de 1984 e recebeu críticas positivas por sua representação autêntica e colorida da cultura afro-brasileira. Quilombo é um filme essencial para se entender as bases da formação da cultura afro-brasileira e do Candomblé.

Quilombo é baseado na história real do Quilombo dos Palmares, uma comunidade de escravos fugitivos que se estabeleceu no nordeste do Brasil no século XVII. A trama segue a ascensão e queda de Palmares, retratando a luta pela liberdade e os desafios da criação e mantenimento de uma sociedade própria dentro de um Estado repleto de opressão e desigualdade.

Amarração do Amor: Um Olhar Profundo sobre o Candomblé

Amarração do Amor é um filme que mergulha profundamente na cultura popular do Candomblé. A narrativa segue a jornada de uma mulher em busca de autoconhecimento e cura espiritual através da fé na religião.

Esse é mais um dos filmes sobre o Candomblé que populariza a religião ao tentar trazer seus elementos para o público, destacando a riqueza da liturgia por dentro das portas de um Terreiro. Através de rituais vibrantes e personagens cativantes, o filme consegue capturar a essência do Candomblé e sua importância para a comunidade, utilizando de uma dramatização necessária para aguçar o interesse do público.

Amarração do Amor é um dos filmes sobre o Candomblé que não tem a responsabilidade de retratá-lo de maneira fiel como um documentário, mas, além disso, também estabelece uma conexão profunda com o público. O filme consegue transmitir essa essência de uma maneira acessível para aqueles que são novos para a religião, ao mesmo tempo que ressoa com aqueles que já são familiarizados com suas práticas e crenças.

Em suma, Amarração do Amor demonstra uma jornada espiritual que convida o público a explorar a riqueza cultural do Candomblé e a encontrar sua própria conexão com o divino, ajudando a afastar a visão preconceituosa de algumas pessoas.

A Escrava Isaura: Uma Jornada de Fé e Liberdade

A Escrava Isaura conta a história de uma escrava que luta pela liberdade no Brasil do século XIX. Com uma produção impecável e atuações memoráveis. O filme é uma produção brasileira de 1949, escrito e dirigido por Eurides Ramos, baseado no livro homônimo de Bernardo Guimarães e é reconhecido por sua representação da luta pela liberdade no Brasil do século XIX.

Esse é um dos filmes sobre o Candomblé que o retrata como uma fonte de força e esperança para Isaura. Através de rituais e práticas do Candomblé, Isaura encontra a coragem para resistir à opressão e lutar pela liberdade diante de imensos abusos, preconceito e discriminação que, ainda que de forma mais diluída, ainda perduram nos dias de hoje.

O relacionamento do filme com o público é profundo e emocional, pois, através da jornada de Isaura, o público é convidado a refletir sobre questões de fé, liberdade e resistência. Assistindo ao filme, fica notório que A Escrava Isaura tem um impacto significativo na sensibilização do público para as questões de preconceito racial e religioso. Ele não apenas dramatiza a dura realidade da escravidão, mas também destaca a perseverança na fé e a sabedoria ancestral africana, que muitas vezes é o diferencial para se poder encarar as adversidades da vida.

Por fim, essa emocionante história nos dá um grande vislumbre dos primórdios, em que os cultos africanos passaram a ser praticados no território brasileiro culminando com a formação do Candomblé.

Santo forte

Santo Forte é um documentário brasileiro de 1999 dirigido por Eduardo Coutinho. O filme apresenta uma série de entrevistas com moradores do Rio de Janeiro, que compartilham suas experiências pessoais e espirituais. O documentário é conhecido por trazer uma grande representatividade do Candomblé e outras religiões afro-brasileiras ao público.

Este é um dos filmes sobre o Candomblé que o retrata como uma parte integrante da vida dos entrevistados, influenciando suas percepções do mundo e suas interações diárias. Através das histórias pessoais compartilhadas no filme, os espectadores têm a oportunidade de ver como a religião oferece uma fonte de conforto, orientação e comunidade para seus seguidores.

Santo Forte destaca a beleza e a complexidade desta religião afro-brasileira, mostrando como ela pode oferecer orientação, força e perseverança em tempos de adversidade. O filme demonstra características interessantes dos adeptos da religião no Rio de Janeiro, conhecido por ser um lugar onde o sincretismo com a Igreja Católica é bem forte, mostrando como exemplo a devoção do povo carioca ao São Jorge Guerreiro, sincretizado com o Orixá Ogum.

Este documentário é rico em informações culturais e que o coloca em um patamar de destaque para quem quer, principalmente, entender as características de diferenciação regional dos diversos cultos dentro do próprio Candomblé.

Bonus: Filmes que prenderam a minha atenção

Evidentemente, conforme nos aprofundamos e assistimos mais filmes sobre o Candomblé, ou mesmo qualquer outro assunto que seja do nosso interesse, vamos nos deparar com algo com que nos identificamos um pouco mais. De tal forma, acabamos por estabelecer uma predileção e, assim, enxergamos estes filmes com um carinho maior do que os demais.

E assim, durante minha pesquisa e revisitação a alguns filmes que eu já havia conhecido, não pude deixar de separar 3 filmes que se adequaram ao meu gosto e, por fim, acabei tendo uma atenção maior ao falar sobre eles.

Então, sem mais delongas, apresento a vocês os filmes que eu acredito que serão marcantes para qualquer pessoa que busque uma filmografia para poder entender melhor o Candomblé.

Bahia de Todos os Santos

Bahia de Todos os Santos é um dos filmes sobre o Candomblé que merece destaque pela sua rica narrativa e abordagem cultural. Dirigido por Trigueirinho Neto e lançado em 1960, o filme conta a história de uma comunidade afro-brasileira em Salvador, Bahia, explorando suas tradições e desafios. A produção foi aclamada por sua cinematografia autêntica e recebeu prêmios em festivais nacionais e internacionais, consolidando-se como um marco no cinema brasileiro.

A trama de Bahia de Todos os Santos gira em torno da vida de Pedro, um jovem que retorna à sua comunidade após passar anos longe de casa. Ao voltar, ele se reconecta com suas raízes e redescobre o valor do Candomblé em sua vida. A narrativa segue Pedro enquanto ele participa dos rituais, aprendendo com os mais velhos e se envolvendo profundamente com a espiritualidade local. Essa jornada pessoal de autodescoberta é entrelaçada com a representação autêntica das práticas do Candomblé, trazendo à tona a beleza e a profundidade da religião.

O filme retrata o Candomblé de forma muito respeitosa, mostrando os rituais e práticas dessa religião afro-brasileira de uma maneira bem autêntica para a dramaturgia. A narrativa se desenrola em torno das celebrações e do cotidiano dos praticantes, proporcionando ao público uma visão profunda e genuína da espiritualidade e da devoção envolvidas. Esse retrato detalhado ajuda a desmistificar o Candomblé, aproximando-o dos espectadores de maneira sensível e informativa.

Ao longo do filme, vemos Pedro se envolvendo em várias cerimônias e rituais do Candomblé, como oferendas aos orixás e festas tradicionais. Esses eventos são mostrados com grande cuidado e autenticidade, destacando a importância da religião na vida dos personagens. A conexão de Pedro com o Candomblé também o ajuda a enfrentar os desafios e preconceitos que surgem, mostrando a força da fé e da comunidade na superação das adversidades.

Bahia de Todos os Santos desempenha um papel crucial na sensibilização do público para as questões de preconceito racial e religioso. Ao destacar a beleza e a importância do Candomblé, o filme combate estereótipos negativos e promove uma maior compreensão e respeito pela cultura afro-brasileira. Essa abordagem contribui para o combate ao racismo e à intolerância religiosa, educando e inspirando os espectadores a valorizar a diversidade cultural.

Além das práticas religiosas, o filme também explora a vida cotidiana em Salvador. Vemos Pedro e outros personagens interagindo em mercados, festivais e outras atividades comunitárias, que são intrinsecamente ligadas às tradições do Candomblé. Essas cenas não só enriquecem a narrativa, mas também fornecem um contexto cultural mais amplo, mostrando como a religião está entrelaçada com todos os aspectos da vida na comunidade.

Os aspectos regionais são meticulosamente apresentados no filme, capturando a essência da Bahia, com suas paisagens, músicas e danças. Essa representação fiel das práticas, liturgia e da cultura local permite uma identificação profunda com o público candomblecista, que vê suas tradições e valores refletidos na tela.

A ancestralidade é um tema central em Bahia de Todos os Santos, que explora a conexão entre os praticantes do Candomblé e seus antepassados. O filme mostra como as histórias e os ensinamentos são passados de geração em geração, fortalecendo a identidade e a coesão comunitária. Essa abordagem reforça a importância da preservação das tradições e da memória coletiva, aspectos fundamentais para a cultura candomblecista.

A jornada de Pedro é também uma jornada de resistência e afirmação cultural. Enfrentando preconceitos e dificuldades, ele encontra força na comunidade e nas tradições do Candomblé. A representação das lutas diárias dos personagens e sua resistência cultural adiciona uma camada de profundidade à narrativa, destacando a importância da perseverança e da união comunitária em tempos de adversidade.

De tal forma, o filme aborda a luta contra a opressão e a resistência cultural dos praticantes do Candomblé. A perseverança e a resiliência dessas comunidades em face das adversidades é retratada de uma maneira bem sóbria, celebrando sua força e sua capacidade de manter vivas suas tradições através dos tempos. Bahia de Todos os Santos é, sem dúvidas, uma obra essencial para quem deseja entender e apreciar a riqueza do Candomblé e a contribuição inestimável da cultura afro-brasileira para a identidade nacional.

O filme foi agraciado com o Prêmio Fábio Prado de melhor argumento original, o Prêmio Saci (1961) de melhor argumento e melhor produtor para Trigueirinho Neto, e melhor atriz para Araçary de Oliveira, o Destaque no Festival de Poços de Caldas (1961, MG), o Prêmio Cidade de São Paulo (1961) conferido pelo júri municipal de cinema na categoria de melhor atriz para Araçary de Oliveira, de melhor argumento para Trigueirinho Neto e de melhor edição para Maria Guadalupe, e o Prêmio de melhor filme e de melhor diretor do Festival do Guarujá (1961, SP).

Por fim, este é um dos filmes sobre o Candomblé que, a pesar de ser considerado antigo, é muito atual dentro dos conflitos contemporâneos e um convite para que os candomblecistas de hoje façam uma reflexão acerca das tradições e dos costumes antigos do Povo de Santo.

Tenda dos Milagres

Tenda dos Milagres é uma obra-prima dirigida por Nelson Pereira dos Santos, e lançada em 1977, que consegue nos transportar para a Bahia do início do século XX através da magia do cinema. Baseado no romance de Jorge Amado, o filme nos apresenta a vida de Pedro Archanjo, um autodidata apaixonado que se torna um defensor incansável do Candomblé e da cultura afro-brasileira.

Pedro Archanjo é um personagem multifacetado que enfrenta o racismo e a intolerância religiosa enquanto se dedica a documentar e preservar as tradições do Candomblé. Suas lutas pessoais e sociais, em uma incansável dedicação para proteger e promover a cultura afro-brasileira, são mostradas em cenas que retratam os rituais do Candomblé em um espetáculo à parte, ricas em detalhes e autenticidade, proporcionando uma visão envolvente da religião e de suas práticas. O cuidado em retratar os atos litúrgicos sem desrespeitar o sagrado e o mistério que envolve a religião conquistou o coração do Povo de Santo da época.

O filme se destaca por dramatizar um Candomblé de maneira muito respeitosa, apresentando algumas de suas cerimônias particulares mais íntimas, como o ato da iniciação, festas e o cotidiano dos praticantes de forma imersiva. Através dos olhos de Pedro Archanjo, o público é convidado a explorar a profundidade e a beleza do Candomblé de origem Yorùbá, desmistificando preconceitos e enaltecendo a sua importância espiritual e cultural de uma maneira fluida que cativa os telespectadores.

Tenda dos Milagres, assim como Bahia de Todos os Santos, aborda temas cruciais como o racismo e a intolerância religiosa. O filme destaca a luta incansável de Pedro Archanjo contra a discriminação, utilizando seu profundo conhecimento do Candomblé para enaltecer as raízes africanas na cultura brasileira. A obra transmite uma mensagem poderosa de resistência e orgulho da identidade cultural, educando o público e fomentando a reflexão sobre a importância de combater o preconceito.

O filme apresenta meticulosamente os elementos regionais e litúrgicos do Candomblé, desde as cerimônias de iniciação até as festividades em honra aos orixás. As paisagens diversificadas da Bahia fornecem um cenário autêntico para as práticas religiosas, reforçando a conexão entre a cultura local e a espiritualidade. Tenda dos Milagres consegue captar a energia e a vitalidade das tradições do Candomblé, oferecendo uma visão ampla e rica desta religião.

Em Tenda dos Milagres, a ancestralidade é um fio condutor, no qual, Pedro Archanjo, o protagonista, busca inspiração e sabedoria nas histórias e lições de seus antepassados para cumprir com os seus propósitos. A manutenção das tradições e lembranças ancestrais é um elemento vital da trama, ressoando com os seguidores do Candomblé e sublinhando a perpetuação cultural que a religião incentiva.

A influência de Tenda dos Milagres vai além de sua trama cativante. A luta de Pedro Archanjo e sua comunidade contra a opressão cultural e social é retratada como uma reflexão profunda sobre resistência e resiliência. O filme homenageia a tenacidade e a coesão de uma comunidade empenhada em preservar suas tradições, tornando-se um emblema duradouro de resistência cultural e orgulho afro-brasileiro.

Para aqueles interessados em filmes que exploram o Candomblé, Tenda dos Milagres é uma escolha indispensável. Ele proporciona um entendimento aprofundado da religião e ressalta a relevância da preservação cultural e da luta contra o preconceito. Este filme exalta essa riqueza da cultura afro-brasileira e atesta sua resiliência, incentivando os espectadores a apreciar e respeitar a diversidade cultural que enriquece a sociedade brasileira, trazendo reflexão para os adeptos contemporâneos para que, assim, possam valorizar ainda mais os esforços de seus antepassados.

Barravento

Barravento é, sem dúvidas, o meu preferido entre os filmes sobre o Candomblé, pois se destaca por sua profundidade. Dirigido por Glauber Rocha e lançado em 1962, o filme conta a história de uma comunidade de pescadores na Bahia, cuja vida é profundamente influenciada pelas tradições e crenças do Candomblé. Este marco do Cinema Novo brasileiro foi aclamado por sua cinematografia inovadora e ganhou prêmios em diversos festivais, incluindo o prêmio Opera Prima no Festival de Karlovy Vary.

A trama de Barravento segue Firmino, um ex-pescador que retorna à sua vila natal com o intuito de libertar seu povo da submissão religiosa e da exploração social. A narrativa desenvolve-se em torno das tensões entre as tradições do Candomblé e as novas ideias trazidas por Firmino, oferecendo uma reflexão profunda sobre a relação entre fé, cultura e identidade. O filme retrata os rituais e cerimônias do Candomblé com grande autenticidade, capturando a essência espiritual da religião de uma maneira impressionante para um tempo em que o segredo e o mistério eram seus pilares mais sólidos.

Barravento é notável por sua representação cuidadosa do Candomblé, mostrando como a religião é intrinsecamente ligada ao cotidiano dos personagens. O filme não apenas documenta suas práticas litúrgicas com primazia, como também explora sua importância cultural e espiritual, permitindo ao público uma imersão educativa única na vida religiosa do Povo de Santo.

O filme aborda de forma crítica a exploração e a discriminação enfrentadas pela comunidade afro-brasileira, utilizando a luta de Firmino como um espelho das tensões sociais e culturais da época. Essa abordagem promove uma maior compreensão e empatia, desafiando os espectadores a refletirem sobre a importância da diversidade cultural e da resistência contra a opressão.

Barravento destaca as práticas litúrgicas do Candomblé, como as festas de louvor aos orixás e os rituais de iniciação de forma única e supervisionada por pessoas ilustres do Candomblé. Essas representações não só enriquecem a narrativa, mas também se conectam profundamente com o público candomblecista, que vê suas tradições e valores refletidos de maneira respeitosa e autêntica.

O filme conta com a participação de atores e atrizes consagrados, como Antônio Pitanga e Luíza Maranhão, cujas performances intensas e envolventes dão vida aos complexos personagens. O elenco talentoso contribui significativamente para a profundidade emocional e a autenticidade do filme, tornando Barravento uma experiência cinematográfica memorável.

Entre as figuras ilustres do Candomblé que participaram do filme estão Ebome Hilda França, saudosa integrante do Candomblé do Gantóis e o também saudoso Camafeu de Oxóssi, Obá de Xangô do Opó Afonjá, duas casas tradicionais e raízes do Candomblé da Bahia. Essas personalidades trazem um brilho maior ao filme, já que suas participações refletem um profundo conhecimento e respeito pelas tradições do Candomblé. A presença dessas figuras ajuda a construir uma conexão genuína entre o filme e a religião que retrata.

A musicalidade do Candomblé é outro destaque importante em Barravento. O Ogã do Gantóis, Vadinho Boca-de-Ferramenta, contribui para a trilha sonora, trazendo a essência da musicalidade sacra do Candomblé ao filme, apresentando sua maestria e virtuose para os músicos sacros do Candomblé mais contemporâneo. A música desempenha um papel crucial na construção da atmosfera do filme, reforçando a ligação espiritual e cultural dos personagens com suas tradições.

A trilha sonora, repleta de cânticos e ritmos tradicionais do Candomblé, não apenas complementa a narrativa visual, mas também oferece ao público uma experiência sensorial rica. A contribuição de Vadinho Boca-de-Ferramenta é fundamental para capturar a autenticidade e a profundidade emocional das cerimônias religiosas, proporcionando uma representação fiel da importância da música no Candomblé.

Mesmo me achando suspeito para falar, indico Barravento como uma obra essencial para todo e qualquer adepto, simpatizante ou integrante do Candomblé, pois sua narrativa traz grandes lições a respeito das tradições seculares dessa religião. O filme oferece uma compreensão profunda da religião e de sua importância cultural, tendo se tornado um testemunho poderoso da resistência da comunidade afro-brasileira, inspirando respeito e admiração pela rica diversidade cultural do Brasil.


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