L. Batista

Compartilhando ideias e histórias.

Papel de um Ogã: 5 Reflexões de Tradição Responsável

O Ogã no Candomblé é uma das figuras centrais que desempenha um papel fundamental na manutenção dos rituais e tradições da religião. Sua função vai além de simples colaborador; ele é o guardião das cerimônias, das músicas, e do bom andamento dos cultos, sendo responsável por tocar os atabaques e outras obrigações dentro do terreiro. O Ogã possui uma ligação profunda com os Orixás e o terreiro, cumprindo funções litúrgicas essenciais que garantem o respeito às tradições milenares desta religião afro-brasileira.

Este post é inspirado no terceiro episódio da primeira temporada do podcast Jẹ ki a lọ, intitulado “O que um Ogã pode Dizer sobre Outro Ogã?”, onde eu faço uma reflexão crítica sobre as responsabilidades de um Ogã e o peso que esse título carrega. O podcast, com seu slogan “Um Candomblé Diferente“, busca trazer uma perspectiva profunda e questionadora sobre os aspectos da religião que muitas vezes passam despercebidos ou são mal compreendidos, tanto dentro quanto fora da comunidade do Candomblé.

No episódio, são exploradas as tradições que cercam a escolha e a consagração de um Ogã, além de refletir sobre como essa figura deve ser exemplo dentro do terreiro. O Ogã não é apenas aquele que desempenha suas funções mecânicas durante os rituais, mas também é uma figura de respeito, alguém que deve zelar pelo bem-estar da casa e de seus membros. Ele atua como intermediário entre o mundo espiritual e o físico, e seu compromisso com a religião deve ser indiscutível. Essa responsabilidade traz à tona a questão de como um Ogã pode avaliar outro Ogã, com base em suas ações, caráter e respeito às tradições.

Em tempos em que se busca uma compreensão mais ampla e profunda do Candomblé, a figura do Ogã se revela como um pilar da tradição. É através da sua dedicação e do cumprimento de suas funções que se preserva a integridade dos rituais, garantindo que os ensinamentos ancestrais sejam passados adiante de forma correta e respeitosa. O episódio provoca uma reflexão sobre o que significa, de fato, ser um Ogã e como cada um pode contribuir para manter viva a chama da tradição religiosa.

Então, me acompanhe nesta aventura pelo mundo do Candomblé, onde juntos vamos ter uma visão mais aprofundada sobre essa figura tão importante para essa religião afro-brasileira.



O Papel de um Ogã no Candomblé

O Ogã no Candomblé é uma figura indispensável dentro da hierarquia e da sua organização ritualística. Sua função vai muito além de simplesmente auxiliar durante as cerimônias; ele é responsável pela preservação das tradições e pela manutenção da ordem litúrgica dentro do terreiro. Um Ogã pertence a uma das classes sacerdotais do Candomblé que desempenha papel crucial no funcionamento dos ritos, muitas vezes sendo o guardião da liturgia que envolve a imolação ritualística em homenagem aos Orixás, bem como dos cânticos, toques e ritmos que evocam a presença das divindades. Seu conhecimento e suas habilidades são passados de geração em geração, assegurando que a cultura e a essência da religião se mantenham intactas ao longo do tempo.

Dentro de um terreiro de Candomblé, o papel de um Ogã pode variar consideravelmente, dependendo da casa e de sua tradição específica. Porém, a responsabilidade de tocar os atabaques, instrumentos fundamentais para a condução das cerimônias, tradicionalmente é dos Ogãs em todas as casas de Candomblé. Esses toques não são apenas música, mas parte integral da liturgia, pois cada ritmo tem especificidades que criam a conexão entre o mundo material e o espiritual. Além disso, o Ogã é responsável por liderar cânticos sagrados, que também possuem uma função ritualística indispensável dentro desse contexto.

Outra função importante que um Ogã pode desempenhar é o controle e a organização das festas e celebrações do terreiro. Ele é, muitas vezes, o responsável por garantir que tudo ocorra dentro das normas litúrgicas, assegurando que cada detalhe seja respeitado. Além disso, o Ogã também tem a tarefa de proteger e zelar pelo bom funcionamento da casa, lidando com questões práticas e administrativas, garantindo que o ambiente esteja preparado para receber os Orixás e os filhos-de-santo.

Essa função organizacional das celebrações de um terreiro não é uma atribuição precípua desta classe sacerdotal, em que muitas vezes, o Ogã, possui atribuições mais ligadas ao apoio logístico ou operacional, porém, havendo a necessidade, por ter o dever de conhecer todas as funções a serem desempenhadas, ele pode assumir um papel de liderança.

Essa diversidade de funções reflete a importância do Ogã dentro do Candomblé. Sua atuação é tanto litúrgica quanto administrativa e de apoio geral, o que exige uma profunda conexão com a tradição e um compromisso contínuo com a comunidade. Um Ogã é, essencialmente, um guardião da religião, e suas responsabilidades são fundamentais para a preservação e continuidade dos ritos. Cada Ogã, ao assumir seu posto, carrega a missão de manter viva a herança cultural e espiritual do Candomblé, desempenhando um papel que transcende o tempo e as gerações.

Tradição e Modernidade: Como um Ogã se Adapta ao Mundo Atual

A função do Ogã no Candomblé é profundamente enraizada na tradição, e muitos de seus deveres permanecem inalterados desde os tempos antigos. No entanto, vivemos em um mundo em constante transformação, e com isso surge a necessidade de adaptação. Hoje, os Ogãs precisam lidar com um cenário moderno, onde suas responsabilidades espirituais muitas vezes precisam ser equilibradas com a vida cotidiana, o trabalho e as demandas da sociedade. No episódio do podcast, foi discutido exatamente esse ponto: como os Ogãs mantêm as tradições vivas, enquanto se adaptam às mudanças do mundo atual.

O desafio que muitos Ogãs enfrentam é encontrar um meio-termo entre sua função religiosa e suas responsabilidades profissionais. Como destacado no podcast, muitos Ogãs possuem trabalhos fora do terreiro, exercendo profissões que exigem grande dedicação. Esse equilíbrio entre o mundo espiritual e o material exige organização, disciplina e, acima de tudo, compromisso. É fundamental que o Ogã mantenha sua ligação com os Orixás e as obrigações rituais, sem negligenciar suas responsabilidades no mundo moderno.

Ainda que o mundo ao redor tenha mudado drasticamente, o papel do Ogã dentro do terreiro continua sendo de extrema importância. Ele é o guardião dos rituais e da tradição, e seu conhecimento é essencial para a preservação da cultura do Candomblé. Mas, ao mesmo tempo, é preciso reconhecer que a modernidade trouxe novos desafios. Muitos terreiros hoje precisam lidar, por exemplo, com questões legais, de gestão e até mesmo de presença nas redes sociais, o que demanda que os Ogãs desenvolvam novas habilidades além de suas obrigações litúrgicas.

A adaptação à modernidade não significa, de maneira alguma, que os valores e tradições do Candomblé estejam em risco. Pelo contrário, essa capacidade de se moldar ao contexto atual, sem perder a essência, mostra a força e a resiliência da religião. Os Ogãs de hoje carregam em si o desafio de manter viva a chama da tradição, enquanto se mostram capazes de atuar em um mundo em rápida transformação. Assim, eles se tornam pontes entre o passado e o presente, preservando as raízes do Candomblé e garantindo que elas floresçam em novos contextos.

O Respeito aos Costumes de Outras Comunidades de Axé

No Candomblé, a diversidade é uma marca registrada, e cada comunidade de axé possui suas particularidades, rituais e tradições. O respeito a essas variações é essencial para a harmonia entre os terreiros e para a preservação da religião como um todo. Mesmo dentro de uma única nação de Candomblé, como Ketu, Angola ou Jeje, há diferenças nos detalhes litúrgicos, nas formas de execução de ritos e até nas vestimentas cerimoniais. Para um Ogã, o respeito por essas particularidades é fundamental, uma vez que ele ocupa uma posição de responsabilidade e liderança, tanto dentro quanto fora de sua comunidade.

No episódio do podcast foi destacada a importância de compreender e respeitar as tradições de outras comunidades. Uma das histórias mencionadas traz o exemplo de um Ogã que, ao visitar outro terreiro, fez questão de se adaptar às regras e vestimentas daquela casa, mesmo que fossem diferentes das de sua própria comunidade. Esse gesto não é apenas uma demonstração de cortesia, mas também um reconhecimento de que o Candomblé é vasto e composto por múltiplas expressões culturais e religiosas, todas igualmente válidas e sagradas.

Ao longo dos anos, algumas casas de axé adotaram costumes que podem parecer diferentes ou até contraditórios para outros terreiros. Por exemplo, certos terreiros têm regras específicas sobre o uso de roupas brancas ou o tipo de tecido permitido durante cerimônias de maior destaque, como a festa do Orixá do dirigente da comunidade. Para um Ogã, compreender essas diferenças e não impor sua própria visão sobre como as coisas “deveriam” ser feitas é uma virtude importante. O respeito à diversidade de práticas é o que garante a coesão da religião como um todo, sem que a individualidade de cada comunidade seja comprometida.

Assim, o respeito mútuo entre os terreiros é mais do que uma simples questão de convivência pacífica; é um valor central que reflete a essência do Candomblé. Ao respeitar as vestimentas, os cânticos, os toques e as tradições de outra comunidade, um Ogã fortalece a união entre as casas de axé e assegura que a riqueza cultural do Candomblé continue a florescer. Afinal, o que mantém a força da religião é justamente essa capacidade de acolher a diversidade, mantendo a tradição viva e autêntica para todos que seguem esse caminho.

A Participação Ativa do Ogã nas Obrigações Religiosas

No Candomblé, a presença de um Ogã nas obrigações religiosas vai muito além de estar fisicamente no terreiro. Para exercer plenamente suas responsabilidades, o Ogã precisa estar engajado com os rituais e ter uma compreensão profunda das liturgias e dos significados espirituais por trás de cada rito. A função de um Ogã é mais do que tocar os instrumentos ou acompanhar o cântico — ele é um guardião das tradições, alguém que compreende as nuances de cada cerimônia e assegura que tudo seja realizado conforme os preceitos da casa de axé.

Um ponto fundamental deste episódio do podcast é a diferença entre presença física e pertencimento espiritual. Muitas vezes, estar presente fisicamente em uma cerimônia não é suficiente; o Ogã precisa estar em completa sintonia com o que está acontecendo ao seu redor. Isso significa que sua participação deve envolver não apenas o corpo, mas também a mente e o espírito. O conceito de comunhão é central aqui: o Ogã deve estar em harmonia com todos os elementos que compõem o ritual, desde os instrumentos ritualísticos até as energias invocadas. Isso é o que se chama de uma participação de corpo e alma, onde cada gesto é carregado de significado e responsabilidade.

Essa participação ativa exige uma dedicação contínua. Ser Ogã é um compromisso de vida, e as obrigações religiosas podem exigir tempo e sacrifício. Cada Ogã precisa encontrar um equilíbrio entre suas responsabilidades pessoais e as demandas da vida religiosa. Não é raro que Ogãs tenham outras atividades profissionais e familiares, e saber conciliar esses mundos é um desafio constante. No entanto, quando o Ogã compreende o valor e o impacto de sua função dentro do terreiro, esse equilíbrio se torna uma extensão natural do seu papel.

Assim, a participação ativa nas obrigações religiosas é um reflexo da dedicação e do respeito que o Ogã tem pela religião e pela comunidade de axé. Ele não apenas cumpre seu dever de estar presente, mas também se envolve profundamente em cada detalhe, assegurando que a tradição seja mantida viva e autêntica. É essa dedicação integral que define um verdadeiro Ogã no Candomblé: alguém que encontra sentido em cada ato e que entende que sua presença é essencial para a continuidade das tradições e dos rituais que conectam a comunidade com o sagrado.

O Futuro do Ogã no Candomblé

O papel do Ogã no Candomblé sempre foi central na manutenção das tradições e rituais, mas à medida que as sociedades evoluem, surgem novos desafios e adaptações para que essa função continue relevante. A continuidade da função de Ogã dependerá de como os valores ancestrais serão conciliados com as demandas contemporâneas. O futuro do Ogã reside em sua capacidade de manter a essência de sua responsabilidade enquanto reconhece as transformações sociais e culturais do mundo atual. Adaptar-se às mudanças sem perder de vista o que é essencial é um desafio, mas também uma oportunidade de crescimento para essa figura sacerdotal.

No cenário contemporâneo do Candomblé, é possível observar o surgimento de questionamentos, principalmente nas redes sociais, sobre a relevância e o papel de figuras tradicionais como Ogãs e Ekejis dentro da religião. Alguns sacerdotes modernos parecem minimizar a importância dessas classes sacerdotais, sugerindo que sua participação nas funções funções está se tornando obsoleta, e ainda mais grave, alguns estão tentando passar a ideia de que ela nem deveria existir. No entanto, é crucial lembrarmos que, historicamente, foram essas figuras que atuaram na linha de frente da preservação e proteção do Candomblé, garantindo que ele não fosse marginalizado ou extinto pelo preconceito e pela intolerância.

As contribuições dos Ogãs e Ekejis não podem ser ignoradas. Figuras que não podemos deixar perecer no esquecimento, como a presença de Ekeji Angelina (in memoriam), que ensinou importantes aspectos do Candomblé para sacerdotes e sacerdotisas, especialmente no Rio de Janeiro. Contribuições como a de Makota Valdina (in memoriam), que teve um papel de grande importância como educadora e ativista dos direitos do Povo de Santo, do protagonismo das mulheres, da preservação do meio ambiente e das tradições da população negra.

Falando no período mais contemporâneo, não podemos nos furtar de enaltecer a figura de Ekeji Sinha, que, da mesma forma que Makota Valdina, além do ativismo, também se empenha de forma brilhante no registro de memórias literárias tão importantes para a preservação de nossas tradições.

Também não podemos deixar cair no esquecimento a participação dos lendários Ogã Erenilton da Casa de Oxumarê (in memoriam), Ogã Bangbala e Ogã Edinho do Gantóis, que passaram seus conhecimentos a várias gerações, desempenharam um papel vital na transmissão dos saberes litúrgicos, como o canto e o toque dos atabaques. Eles formaram a base do toque de atabaques do Candomblé contemporâneo, traduzindo para nós a linguagem musical que atravessou gerações, sendo eles um elo entre nós e os grandes “Ogãs da Linha 15”, e são exemplos claros de como essas classes sacerdotais têm uma importância que vai muito além de qualquer glamour momentâneo que a modernidade possa trazer.

É necessário refletir sobre o fato de que o Candomblé é uma religião que depende de um equilíbrio delicado entre todas as suas classes sacerdotais. Cada uma dessas figuras desempenha um papel essencial no funcionamento da religião, e a tentativa de diminuir a importância de qualquer grupo é um desrespeito à história e às tradições que fizeram com que o Candomblé resistisse ao longo dos séculos. Ogãs, Ekejis, Babalorixás, Iyalorixás, Egbon, Iyao e até mesmo aqueles que ainda não são iniciados, são peças fundamentais desse complexo sistema espiritual e cultural.

O protagonismo dessas classes sacerdotais precisa ser reconhecido, e qualquer tentativa de sobrevalorizar uma função em detrimento de outra ameaça o equilíbrio necessário para a coesão da comunidade de axé. Devemos estar atentos ao fato de que cada classe tem sua relevância, e o funcionamento harmonioso do Candomblé depende da atuação conjunta dessas “engrenagens”. Ogãs e Ekejis são pilares que sustentam o ritual, a história e a perpetuação do axé. Não podemos permitir que a modernidade apague a memória de suas contribuições ou tente distorcer seu verdadeiro valor.

Essa discussão sobre a tentativa de colocar uma classe em um pedestal, ignorando as outras, é perigosa para a continuidade saudável do Candomblé. Precisamos buscar o equilíbrio, onde todas as classes sacerdotais são reconhecidas por suas contribuições, sem que uma se veja superior às demais. O respeito pelas tradições e pela diversidade de funções é o que mantém viva a essência dessa religião. Ao mesmo tempo, é importante que adaptemos nossas práticas aos novos tempos, sem esquecer quem somos e de onde viemos.

O glamour que algumas figuras de destaque podem ganhar nas redes sociais não deve ser visto como uma regra ou um objetivo. O Ogã que se posiciona acima dos outros corre o risco de perder o verdadeiro significado de seu papel, que é, antes de tudo, servir à comunidade religiosa com humildade e responsabilidade. O trabalho de um Ogã é essencial, mas ele é apenas uma peça dentro de um conjunto maior, onde cada membro desempenha um papel crucial.

Dentro de uma comunidade de axé, todos os indivíduos, iniciados ou não, têm sua importância. Mesmo aqueles que ainda não passaram pelo processo iniciático, ou que desempenham funções aparentemente secundárias, são fundamentais para o funcionamento do espaço religioso. A coesão de um terreiro depende da colaboração de todos, desde os mais experientes até os que estão apenas começando sua jornada. O Ogã, com sua experiência e liderança, deve sempre lembrar-se disso, valorizando cada pessoa que contribui para a harmonia e prosperidade do axé.

Por fim, o papel do Ogã no Candomblé continuará sendo essencial, mas precisará se moldar às transformações do tempo. A tradição não é estática, e o Ogã de hoje deve estar preparado para enfrentar os desafios que surgem com a modernidade, sem deixar de lado seus compromissos com as raízes e a espiritualidade. O futuro de sua função estará garantido enquanto ele conseguir equilibrar a preservação dos ritos antigos com a capacidade de adaptação às novas realidades que o cercam. Isso exigirá discernimento, humildade e um profundo respeito pelas responsabilidades que lhe foram confiadas.

Ogan Leandro apresentando o Podcast Jẹ ki a lọ em sua primeira temporada
Podcast Jẹ ki a lọ – Temporada 1

Ogã: Símbolo de Responsabilidade e Tradição no Candomblé

Ser Ogã no Candomblé é muito mais do que ocupar uma posição de destaque em uma casa de axé; é assumir uma responsabilidade profunda com a preservação das tradições e rituais que formam a base da religião. Como discutido ao longo deste post, o Ogã desempenha funções essenciais que vão desde auxiliar nas tarefas mais simples, passando pelo zelo com o ritmo e musicalidade das cerimônias, até a imolação ritual e a proteção física e espiritual da comunidade. O papel do Ogã não é apenas técnico, mas também espiritual, exigindo comprometimento e profundo respeito pela herança ancestral que o Candomblé carrega.

O equilíbrio entre a tradição e a modernidade é um dos desafios que os Ogãs enfrentam no contexto atual. Com as mudanças no mundo moderno, muitos têm a tarefa de conciliar suas responsabilidades religiosas com suas vidas profissionais e pessoais. A adaptação contínua é uma necessidade para garantir que a função do Ogã continue sendo relevante e respeitada, sem perder sua essência espiritual. Isso requer sabedoria e discernimento, para que o Ogã mantenha seu papel de guardião das tradições, sem sucumbir às pressões externas.

Ao longo do tempo, o papel do Ogã no Candomblé se manteve como um símbolo de respeito e honra dentro das comunidades de axé. No entanto, como mencionamos, é essencial que essa função não seja vista como superior às demais. A coesão de uma casa de Candomblé depende do reconhecimento de que todas as classes sacerdotais e até mesmo os não iniciados têm sua importância e contribuição. O Ogã deve ser um exemplo de sobriedade de pensamentos e ações, sempre agindo em prol da coletividade e do axé.

Em suma, ser Ogã é um compromisso de vida, uma jornada que exige dedicação, estudo contínuo e uma postura humilde perante o sagrado. O futuro dessa classe sacerdotal continuará sendo fundamental para o Candomblé, desde que o equilíbrio entre tradição e adaptação seja mantido, e que cada Ogã compreenda o papel essencial que desempenha na preservação das liturgias e na harmonia das comunidades de axé.

Episódio completo – no Youtube
Episódio completo – no Spotify

Se você deseja se aprofundar ainda mais no assunto e compreender melhor o que significa ser um Ogã na prática, não deixe de acompanhar o podcast Jẹ ki a lọ. Esse terceiro episódio da primeira temporada do podcast, completo, está disponível principalmente no YouTube e Spotify, além de outros aplicativos de podcast como o Castbox.

Perguntas Frequentes

Há diversas perguntas que costumam ser feitas, principalmente por pessoas que não fazem parte das comunidades de Axé que precisam ser esclarecidas. Pensando nisso, trouxe algumas perguntas frequentes para serem respondidas de maneira simples, e que podem fomentar uma discussão futura mais aprofundada.

Quais são os tipos de Ogan?

Existem diferentes tipos de Ogã no Candomblé, cada um com funções específicas. As mais comuns são o Ogã Alagbê, responsável pelos atabaques e pela condução dos toques, o Ogã Axogun, encarregado dos sacrifícios, e o chamado “Ogã de Sala“, que auxilia na organização das cerimônias e no suporte às divindades e sacerdotes. Cada tipo desempenha um papel fundamental para o bom funcionamento das atividades religiosas.

Porque Ogan não incorpora?

Os Ogãs não incorporam porque sua função no Candomblé é de suporte e sustentação das cerimônias, o que exige concentração e controle durante os ritos. Eles servem como guardiões das liturgias, assegurando que as práticas ocorram de forma correta. Sua presença é essencial para manter a harmonia das celebrações, e também por isso, não entram em transe ou incorporam entidades. Ademais, acredita-se que a predisposição ao transe ou incorporação é uma característica de a algumas pessoas por questões espirituais relacionadas ao destino do indivíduo.

Quem são os ogãs?

Os Ogãs são homens que desempenham papéis fundamentais no Candomblé, sendo escolhidos por seus Orixás ou pela liderança religiosa da casa. Eles são responsáveis por tarefas específicas, como tocar os atabaques, realizar sacrifícios, e garantir a ordem e a execução adequada dos ritos. Sua posição é de grande respeito e comprometimento com a religião.

O que um Ogan deve saber?

Um Ogã deve dominar os ritmos e cânticos litúrgicos do Candomblé, conhecer as regras e preceitos da religião, e estar familiarizado com os Orixás e seus significados. Ele também precisa compreender as responsabilidades que vêm com seu cargo, sendo capaz de organizar e apoiar as cerimônias com dedicação e respeito.

O que faz um Ogan no candomblé?

O Ogã é o responsável por auxiliar nas cerimônias, tocando instrumentos, especialmente o atabaque, conduzindo o ritmo dos ritos e zelando pela ordem litúrgica. Além disso, ele atua como protetor e guardião da casa de axé, desempenhando um papel essencial nas funções espirituais e práticas da comunidade.

Qual o cargo mais alto no candomblé?

O cargo mais alto dentro de qualquer comunidade de Axé no Candomblé é o de Babalorixá ou Iyalorixá, que são os líderes espirituais da casa de axé. Eles são responsáveis pela condução das cerimônias, a iniciação dos filhos de santo, e a preservação das tradições da religião. A hierarquia e o respeito por esses líderes são fundamentais para a continuidade do Candomblé.

Qual orixá vive no atabaque?

Orixá que habita o atabaque é “Ayangalu”. Ele é considerado o Orixá que rege os tambores, e são feitos rituais específicos em sua homenagem, mantendo a força e a conexão espiritual com os rituais.

Quanto tempo um Ogan fica recolhido?

O tempo de “recolhimento” de um Ogã varia conforme a tradição da casa de axé, podendo ser de dias ou semanas, com preceitos a serem cumpridos por meses e até anos. Durante o recolhimento, ele passa pelo processo iniciático do Candomblé e recebe ensinamentos sobre as obrigações e os segredos da função que vai desempenhar na comunidade religiosa.

O que é Ogan confirmado?

Um Ogã confirmado é aquele que passou por todos os ritos e obrigações necessárias ao processo iniciático, tornando-o apto a exercer sua função de forma plena dentro do Candomblé. A confirmação do Ogã inclui cerimônias específicas que o consagram oficialmente para suas responsabilidades no terreiro, tornando-o um membro vital da estrutura litúrgica.

Porque mulher não toca atabaque no candomblé?

A tradição de que mulheres não tocam atabaque no Candomblé está ligada a antigos preceitos religiosos que determinam funções específicas para homens e mulheres dentro do terreiro. O atabaque, por ser considerado um instrumento sagrado, é reservado aos Ogãs, que são tradicionalmente homens, havendo determinados interditos, ou tabus, relacionados à condição da procriação feminina, levando-se em consideração a distinção energética relacionadas à diferenciação entre masculino e feminino. No entanto, algumas casas têm flexibilizado essa prática recentemente.


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